O documento Perda de oportunidades: o elevado custo de não educar as meninas, elaborado pelo Banco Mundial em parceria com o Fundo Malala, afirma que o mundo tem cerca de 130 milhões de meninas na faixa dos 6 aos 17 anos fora da escola — o que causa enormes abalos econômicos, principalmente em países de baixa renda. No Brasil, 15% das meninas na faixa dos 15 aos 17 anos não frequenta a escola. Entre as principais razões estão a necessidade de trabalhar, a descrença no modelo escolar como efetivo na mudança do padrão de vida, além da gravidez precoce.
Para as meninas que permanecem na escola, a situação também é bastante desafiadora por conta da pesada carga dos estereótipos de gênero: em geral, as garotas são afastadas de disciplinas relacionadas a tecnologia, engenharia e matemática, de acordo com pesquisa realizada pela Flacso Argentina.
Fonte: O Globo
Ainda no estudo “Perda de oportunidades: o elevado custo de não educar as meninas” temos o dado de que 12 anos de educação de qualidade para todas as meninas do mundo garantiriam um aumento de renda de US$ 15 trilhões para US$ 30 trilhões ao longo da vida. Mulheres que contam somente com o ensino fundamental têm ganhos que são de 14% a 19% superiores aos daquelas sem educação formal. A educação formal também garante às mulheres melhor autoestima e bem-estar, além de reduzir os casos de violência por parte de parceiros.
De acordo com Malala Yousafzai, jovem paquistanesa ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2014 e fundadora do Fundo Malala:
Quando 130 milhões de meninas são impedidas de se tornar engenheiras, jornalistas ou CEOs porque não têm acesso à Educação, nosso mundo perde trilhões de dólares que poderiam fortalecer a economia global, a saúde pública e a estabilidade. Se os líderes falam seriamente em criar um mundo melhor, eles têm que começar a investir seriamente em Educação secundária para meninas. Esse relatório é mais uma prova de que não podemos mais adiar o investimento nas meninas.
O principal desafio na educação de meninas está, principalmente, em vencer a discriminação de gênero. Viviana Santiago, gerente de Gênero e Incidência Política da Plan International Brasil, afirma que:
Os papéis tradicionais de gênero ainda colocam as meninas para desempenhar com exclusividade os trabalhos domésticos, o que acaba levando a uma frequência irregular ou à evasão da escola.
Essa ideia de papéis de gênero é reforçada pelos achados do estudo Por Ser Menina, da Plan International Brasil (2015). De um lado, as meninas entrevistadas costumam referir a si mesmas em termos como “doce”, “bonita” ou “charmosa” — foram poucos os relatos em que as garotas se enxergavam em termos como “ter os próprios direitos” ou “ter sua opinião”. No ambiente doméstico, são as meninas as responsáveis pelos afazeres da casa, além de possuírem menos direitos e liberdade que os meninos. Assim, a escola se torna o ambiente ideal para romper com os estereótipos de gênero, de forma a permitir o desenvolvimento integral das meninas. Os docentes devem ter a sensibilidade de apresentar aos alunos exemplos que contem tanto com homens quanto mulheres. Entre alguns exemplos, estão:
- Marie Curie, cientista polonesa responsável por pesquisas pioneiras no campo da radioatividade. Ela recebeu tanto o Prêmio Nobel de Física quanto o de Química, sendo a única pessoa a conquistar este prêmio em duas categorias diferentes;
- Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, as cientistas da NASA cujo trabalho foi essencial para que os EUA ganhassem a corrida espacial durante a Guerra Fria;
- Rosalind Franklin, biofísica britânica que descobriu o formato helicoidal do DNA;
- Bertha Luz, uma das maiores biólogas do Brasil, que também teve importante participação no processo de aprovação do voto feminino em 1932;
- Mamie Phipps Clark foi a primeira mulher negra a obter doutorado na Universidade de Columbia. Seus estudos com bonecas brancas e negras mostraram como o racismo prejudica a autoimagem da população negra e ajudaram a acabar com a segregação nas escolas públicas em 1954.
A educação de meninas e mulheres representa um passo crucial para o desenvolvimento do Brasil. Como afirmou Maurizio Giuliano, diretor do UNIC Rio:
Sem igualdade de gênero não pode haver desenvolvimento, nem esse desenvolvimento pode ser sustentável. A igualdade de gênero é vital para a América Latina, para o pleno exercício dos direitos humanos e para o desenvolvimento socioeconômico.