4 lições de educação, de Singapura para o Brasil

Uma oportunidade ímpar. É como enxergo a visita a Singapura, a convite da Fundação Lemann e na companhia de um grupo com mais 20 profissionais de educação, que formava uma comitiva brasileira educacional. O país asiático ocupa o primeiro lugar do ranking do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) – principal exame para medir a qualidade educacional internacional, aplicado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento) – e é referência em diversos aspectos no que tange à formação de professores e ao progresso da carreira docente. Quatro fatos me surpreenderam positivamente e creio que funcionem como grande inspiração para que o Brasil se desenvolva pedagogicamente: avaliações rigorosas, dedicação exclusiva do professor, política de meritocracia por desempenho para docentes e busca constante por mudanças.

Avaliações rigorosas formam a base-chave no ingresso na carreira de professor. Em Singapura, somente aqueles com melhor desempenho se tornarão docentes, o que garante a entrada dos jovens mais qualificados. Ao contrário do Brasil, que possui notas baixas para o acesso aos cursos de licenciatura e pedagogia. O investimento permanente em formação continuada do professor é outro ponto que merece destaque. Após ingressar no ensino superior, o professor é remunerado para estudar antes mesmo de exercer a profissão, ou seja, em Singapura os professores estão em constante formação.

Outro aspecto positivo, tanto para o profissional de educação quanto para o aluno, é a dedicação exclusiva do professor, que tende a trabalhar somente em uma escola desde o início da carreira, além de contar com excelentes condições de trabalho. Essa mesma lógica poderia ser implementada no Brasil se os concursos públicos oferecessem ao servidor a carga horária de 40 horas semanais, em vez da modalidade mais comum de 16 horas. Essa estrutura garantiria também a permanência, o vínculo e a continuidade do trabalho docente, com maior remuneração e menor desgaste nos deslocamentos para mais de um local de trabalho.

A política de meritocracia por desempenho para professores de Singapura é mais um ponto que nos ensina como se destacar no cenário da educação. Os docentes e diretores recebem incentivos caso seus alunos tenham bom desempenho nas avaliações externas. Trata-se de uma comprovação de eficiência do trabalho docente.

E, apesar do destaque internacional, Singapura busca melhorar ainda mais seus resultados no campo da educação. Existe uma preocupação local de preparar a sociedade para as mudanças no mercado de trabalho. Um bom exemplo é a Escola de Formação de Professores de Singapura, que se mostra focada em desenvolver competências socioemocionais, a fim de estimular a criatividade dos jovens.

No entanto, a criatividade, uma das competências necessárias para enfrentar os desafios do século 21, ainda tem um grande percurso para avançar em Singapura. Para mim, essa preocupação ficou evidente quando, na tentativa de deixar claro que a escola não é só para atender um seleto grupo de crianças, um dos anfitriões disse: “Os alunos que têm amor em casa vão para a escola querendo aprender, já os que não têm vão para serem amados”. A lição que interpreto é que a aplicação exclusiva de conteúdo não é suficiente para a educação e há um valor indissociável da integração entre família, aluno e escola: tanto a escola quanto a família são fundamentais para o desenvolvimento das competências socioemocionais da criança. Trata-se do patamar mínimo do qual a criança necessita para iniciar e, em seguida, manter a curva de aprendizagem ascendente. Uma maneira prática de trabalhar esse vínculo entre aluno, família e escola é por meio do projeto da Estante Mágica, pois pais e professores se envolvem emocionalmente com o aprendizado do aluno ao estimular sua criatividade.

*Este artigo foi publicado originalmente pela equipe Porvir em 26/02/2019

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