Brincadeiras, cantigas, parlendas, poemas e histórias para crianças de seis meses a cinco anos – Parte I

Querida família,

Neste período de quarentena, com todos em casa, a intenção desta proposta é incentivar a criatividade, a expressão simbólica, o pensamento conceitual e a linguagem da criança, por meio de brincadeiras que estão integradas com a leitura de histórias, parlendas e cantigas.

Estas atividades podem ser realizadas em qualquer espaço. Além disso, os poucos materiais necessários são simples: sucatas que estejam disponíveis, com a possibilidade de serem substituídas por outros objetos.

As brincadeiras estão organizadas por faixas etárias, mas esta estrutura é flexível, ela pode variar de acordo com o interesse e a maturidade de cada criança. Nesta primeira parte, abordaremos brincadeiras para as faixas etárias de seis meses a quatro anos.

Para crianças de seis meses a um ano

Eu e meu corpo:

 

Materiais:

  • Um espelho;
  • Um livro para bebês sobre o tema “meu corpo”, com texto simples e ilustrações grandes e coloridas.

Sugestão: há vários textos na internet sobre este assunto dirigidos aos bebês. No entanto, se for possível, escolha o livro, pois ele é fundamental para incentivar a apreciação literária e o futuro gosto pela leitura.

Inicie a brincadeira dizendo alto o nome da criança e apontando para ela. Mostre o rosto da criança no espelho e diga o nome dela. Brinque de nomear as partes do corpo: o adulto aponta a sua cabeça e a cabeça da criança e diz: “cabeça”.

Dica: entre os nove e dez meses, a criança já é capaz de imitar alguns gestos realizados na frente dela.

Repita o mesmo procedimento em relação às outras partes do corpo: testa, olhos, nariz, ombro, braço, mão, perna, pé etc. Para enriquecer a brincadeira, integrá-la com esta cantiga:

“Cabeça, ombro, pernas e pés, pernas e pés

Olhos, ouvidos, boca e nariz

Cabeça, ombros, pernas e pés”

O adulto, à medida que canta, deve apontar no corpo da criança cada parte descrita nos versos acima.  Em seguida, pegue o livro sobre o tema “meu corpo”.

Dica: antes de iniciar a leitura, o adulto põe a criança no colo, de costas para ele e com o livro aberto na frente dela. Assim, ela ficará na posição de leitora.

Mostre e leia para a criança o livro sobre as partes do corpo, enfatizando as ilustrações.

Você sabia?

Os bebês são mais observadores do que supomos. Por isso, à medida que o adulto for lendo o texto, pode incentivar a criança a virar as páginas, a observar as ilustrações, pois elas são fundamentais: é através das imagens que a criança desenvolve as primeiras noções do que é a sequência narrativa de um texto.

 

Durante a leitura, comparar as figuras que mostram as partes do corpo, com os elementos do corpo da criança, também é um recurso interessante neste processo.

Para crianças de seis meses a um ano

Esconde-esconde:

 

Materiais:

  • Uma canga de praia ou um tecido do mesmo tamanho, que não seja transparente.

Inicie a brincadeira com a criança sentada de frente para o adulto. Estenda o tecido como se fosse uma cortina, entre os dois. A criança se esconde atrás do tecido, enquanto o adulto diz: “Cadê (diga o nome da criança)…? Achou!” (abaixe o tecido).

Repetir várias vezes a brincadeira variando as posições. Por exemplo: esconder o rosto pelo lado direito do tecido e fazê-lo aparecer na parte superior do tecido; esconder o rosto pelo lado esquerdo do tecido e fazê-lo aparecer na parte inferior do tecido etc.

Para crianças de seis meses a um ano

Gato escondido:

Materiais:

  • Uma canga de praia ou um tecido do mesmo tamanho, que não seja transparente;
  • Um rolo de fita adesiva;
  • Uma caixa de giz de cera;
  • Uma cartolina, ou se não tiver cartolina, duas folhas de papel sulfite coladas uma na outra (para ficarem maiores).

Na cartolina (ou nas folhas de sulfite) desenhe e pinte com giz de cera um gato grande com rabo comprido. Iniciar a brincadeira recitando a seguinte parlenda: “Gato escondido com rabo de fora / está mais escondido / do que rabo escondido com gato de fora”.

Em seguida, pegue o tecido e a figura do gato. Recite novamente a parlenda junto com a criança, mas desta vez, mudando a posição do gato em relação ao tecido. Por exemplo, ao recitar:  “Gato escondido com rabo de fora…”, esconda a parte do corpo do gato atrás do tecido e deixe só o rabo do gato fora do  tecido. E quando recitar: “…Está mais escondido do que rabo escondido com gato de fora”, mude a posição do gato, escondendo atrás do tecido o rabo do gato, deixando o restante do corpo do gato fora do tecido.

Brinque de esconder o gato atrás de outros objetos da residência: atrás da cortina, da cadeira, do sofá etc. Junto com a criança, o adulto pode procurar o gato escondido até achá-lo, enquanto recita os versos da parlenda.

Para crianças de um ano a dois anos

“Sapo Cururu” e “O sapo não lava o pé”:

 

Materiais:

  • Uma cola;
  • Uma cartolina azul recortada como se fosse um rio ou um tecido azul do tamanho de um lenço de cabeça;
  • Um pedaço de papel (não muito grosso) que tenha, aproximadamente, 80cm de altura x 50cm de largura;
  • Uma figura grande e colorida de um sapo (ou 1 foto);
  • Para a figura do sapo parar em pé: um pedaço de folha de papel sulfite, cuja altura tenha o dobro da altura da figura do sapo e cuja largura seja a mesma da largura da figura do sapo.

Cole a figura do sapo no pedaço de folha de sulfite descrito acima. Em seguida, dobre-o na altura da figura do sapo. Inicie a brincadeira com todos sentados no chão. Coloque na frente da criança o tecido (ou a cartolina azul) que representa o rio. Ponha a figura do sapo ao lado do rio. Em seguida, cante a cantiga de roda “Sapo cururu”, enquanto a criança movimenta a figura do sapo:

“Sapo cururu

Na beira do rio

Quando o sapo canta, maninha

É porque tem frio

A mulher do sapo

Deve estar lá dentro

Fazendo rendinha, maninha

Para o casamento”

Em seguida, dê o pedaço de papel (o de 80 x 50 cm) para a criança. Proponha que ela amasse o papel fazendo uma bola com ele.

Dica: Pregar a bola de papel com fita adesiva, para ela não desmontar.

Diga para a criança: “faz de conta que esta bola de papel é a pedra do rio”, então ponha a “pedra” ao lado do rio. Dê a figura do sapo para a criança e proponha: “O sapo cururu pulou em cima da pedra!” Observe se a criança põe o sapo em cima da pedra ou incentivá-la a fazer isso.

A brincadeira continua com o adulto sugerindo: “O sapo cururu saiu d e cima da pedra. Agora ele está ao lado da pedra!” Observe se a criança movimenta o sapo de acordo com a regra que foi dita. Caso não aconteça, incentive-a a fazer isso.

Outra variação desta brincadeira: faz de conta que o rio vira lago. Cante junto com a criança outra cantiga de roda, também inspirada no sapo, chamada “O sapo não lava o pé”:

“O sapo não lava o pé

Não lava porque não quer

Ele mora na lagoa

Não lava o pé

Porque não quer”

Para crianças de dois a três anos

“Carneirinho, Carneirão”:

Esta brincadeira é inspirada na cantiga de roda “Carneirinho, carneirão” e no poema para crianças “Os carneirinhos” de Cecília Meireles, que faz parte do seu livro “Ou Isto ou Aquilo”. Caso a família não tenha esta obra, o poema “Os carneirinhos” está disponível na internet. Apesar disso, quando os pais tiverem oportunidade, vale a pena adquirir este livro, pois é um clássico da literatura brasileira para crianças. Uma boa oportunidade para todos lerem, todo dia, um poema de Cecília Meireles para seus filhos e filhas!

Além disso, o livro, enquanto objeto, é muito importante: a criança, mesmo sem ainda estar alfabetizada, só de manuseá-lo e apreciar suas ilustrações (enquanto o adulto lê para ela) já está desenvolvendo a paixão pela literatura.

 

Materiais:

  • O poema “Os carneirinhos” de Cecília Meireles;
  • Uma tesoura;
  • Uma cola;
  • Um furador;
  • Duas fotos grandes e coloridas: de um carneirinho e de um carneiro adulto (os dois com bastante lã).

 

Para cada participante:

  • ¼ de um pacote pequeno de algodão;
  • Dois pedaços de barbante medindo cada um 60 cm;
  • ¼ de cartolina branca;
  • Uma máscara de carneiro (há vários modelos na internet, todos fáceis de imprimir e recortar);
  • Recortar e colar a máscara de carneiro no pedaço de cartolina (para ficar firme);
  • Recortar na máscara de carneiro: o local dos olhos, da boca, do nariz e com um furador, fazer dois furos em cada lado da máscara (para passar os barbantes).

Inicie a brincadeira mostrando a foto grande e colorida do carneirinho e do carneiro adulto para a criança. Descreva como os carneiros são. Em seguida, leia o poema “Os carneirinhos”. Se os adultos estiverem com o livro, podem mostrar a ilustração deste poema, que apresenta um pastor guiando os carneirinhos. Diga para a criança o que é um pastor, qual é seu trabalho etc.

Após a leitura, converse sobre o poema, sobre os personagens e as imagens bonitas dos versos. A partir da comparação “os carneirinhos são enroladinhos como carretéis de lã”, o adulto pode propor à criança que aponte outras comparações para os carneirinhos: eles são brancos como o algodão, como a neve, como rosas brancas etc.

Continue a brincadeira fazendo com que cada um pegue sua máscara de carneiro. O adulto deve passar cola na cabeça e nos dois lados das caras dos carneiros. Então dê os pedaços de algodão para a criança colar nos locais das máscaras citados acima.

Em seguida, cada um põe sua máscara de carneiro. Brinquem de teatrinho imitando como o carneirinho anda, o som que ele faz; um participante pode ser o pastor e os outros, os carneirinhos etc. Depois, cantar a cantiga de roda “Carneirinho, carneirão”:

“Carneirinho, carneirão, neirão, neirão

Olha para o céu, olhai pro chão, pro chão, pro chão

Manda ao rei nosso senhor, senhor, senhor,

Para todos se ajoelhar” (neste trecho, todos os participantes se ajoelham)

É possível variar o último verso para possibilidades como “para todos se levantar” (todos se levantam) ou “para todos se deitar” (todos se deitam”) etc.

Dica: Dependendo do espaço da residência, a família pode brincar de pastor e seu rebanho: quem for carneiro, fica de quatro e passeia pelo local balindo “mé, mé, mé” enquanto o pastor guia o rebanho.

Para crianças de dois a três anos

A galinha do vizinho:

 

Materiais:

  • Uma tesoura;
  • Uma foto grande e colorida de uma galinha ou uma galinha de brinquedo.

 

Para fazer os ovos da galinha do vizinho:

  • Um rolo de papel crepom amarelo ou 10 folhas de papel sulfite amarelo (ou outro papel amarelo que seja do mesmo tamanho do que uma folha de papel sulfite.

Dica: caso não tenha papel amarelo, nem papel crepom amarelo, o papel pode ser de qualquer cor: a galinha do vizinho pode botar ovo azulzinho, verdinho, cor de rosa, branquinho etc.

Se os ovos da galinha do vizinho forem confeccionados com o rolo de papel crepom: recortar 10 “rolinhos” do rolo de folha de papel crepom, cada “rolinho” com 6 de cm de altura. Se forem feitos com as 10 folhas de sulfite: não precisa recortá-las.

Inicie a brincadeira cantando a cantiga de roda “A galinha do Vizinho” para a criança. Em seguida, distribua as 10 folhas de sulfite ou os 10 rolinhos de papel crepom para a criança. Proponha que a criança crie os ovos da galinha do vizinho amassando os papéis em forma de bolinhas (é mais fácil para a criança fazer “bolas” do que formas ovais).

Depois que os ovos da galinha do vizinho estiverem feitos, coloque a figura da galinha ou a galinha de brinquedo no meio da sala. Todos devem ficar em volta da galinha, sentados no chão. Ponha os 10 ovos de papel ao lado da criança. Em seguida, todos cantam:

“A galinha do vizinho

Bota ovo amarelinho (ou “verdinho”, ou “branquinho”, ou azulzinho” dependendo das cores dos ovos)

Bota 1 (neste trecho, a criança pega um ovo e o coloca ao lado da galinha)

Bota 2 (neste trecho, a criança pega outro ovo e o coloca ao lado do outro ovo, que está ao lado da galinha)”

… e assim sucessivamente até todos cantarem no fim: “Bota 10!”

Sugestão: se for possível, realize a brincadeira acima com todos em pé, cantando e rodando de mãos dadas em volta da galinha; dando pequenas paradas quando for o momento de a criança colocar cada ovo ao lado da galinha e com todos pulando no “Bota 10!”

Para crianças de três a quatro anos

“A trilha da floresta e a casa de doces” inspirada no conto de fadas “João e Maria”

 

Materiais:

  • Uma toalha velha de mesa;
  • Um livro de contos de fadas dos Irmãos Grimm que tenha o conto “João e Maria”.

Dica: Caso a família não tenha na residência nenhum livro com a adaptação do conto “João e Maria”, é possível contá-la oralmente à criança, por se tratar de uma narrativa muito conhecida.

 

Para fazer as “pedrinhas” da trilha:

  • 20 folhas de papel sulfite de qualquer cor ou 20 pedaços de papel de qualquer cor, cada um do tamanho de uma folha de sulfite.

 

Para fazer a base da casinha de doces:

  • Um papelão retangular medindo aproximadamente 25cm x 35 cm (ou uma tampa retangular de embalagem “delivery” bem lavada e enxugada, que tenha, mais ou menos, as mesmas medidas citadas, ou um prato de papel retangular com medidas semelhantes).

 

Para fazer a “casinha de doces”:

  • Dois pacotes comuns, de qualquer biscoito que tenha o formato retangular (para facilitar a montagem da casinha pela criança).

 

Para quem quiser incrementar a casinha:

  • Quatro chocolates pequenos ou 4 doces pequenos de qualquer formato, para serem os canteiros do jardim da casinha.

Dica: faça esta brincadeira perto da hora do lanche.

Inicie a brincadeira pegando o livro de contos dos Irmãos Grimm (se estiver com o livro). Leia e mostre o título do livro e o nome dos autores para a criança.

Antes de começar a ler alto o conto “João e Maria”, ou antes de começar só a contá-lo oralmente (se estiver sem o livro), o adulto pode dizer para a criança que esta é uma história muito antiga. Caso se lembre, pode dizer também quem lhe contou quando ele era criança, se outras pessoas da família também conheciam ou conhecem o conto de fadas “João e Maria” etc.

Dica: Dependendo da maturidade da criança, amplie esta conversa, acrescentando que existem histórias que são tão antigas, que ninguém sabe quem as inventou: uma pessoa escuta e conta para outra e assim estes contos “se espalham pelo mundo”. É o caso de “João e Maria.”

Você sabia?

Neste procedimento, nas entrelinhas, as crianças já estão se sensibilizando para admirar os contos da cultura popular.

 

Caso tenha o livro, à medida que for contando o enredo, incentivar a criança a virar as páginas, enfatizando que as ilustrações retratam as passagens mais importantes do conto. Conte com calma, criando “clima’ com a voz, fazendo pequenas pausas para aumentar as nuances das ações e das emoções dos personagens:

“Então… João e Maria, na primeira vez que entraram na floresta, para não se perderem, jogaram pedrinhas pelo chão, fazendo uma trilha.”

“Na segunda vez que foram para a floresta, João estava sem pedrinhas e jogou miolos de pão, mas vieram os passarinhos e comeram tudo.”

“Aí… eles encontraram uma casa toda feita de doces: as paredes eram de chocolate, as portas eram de bolo…”

Dica: neste trecho, além de ler a descrição da casinha de doces, incentive a criança a descrever como ela imagina que era a casinha.

Após contar “João e Maria”, distribuir as folhas de sulfite para a criança e propor: “Vamos construir a trilha para João e Maria. Vamos fazer de conta que estamos na floresta.”

A criança amassa cada folha em forma de bola, para fazer de conta que cada bola é uma pedrinha da trilha. Quando todas as “pedrinhas” estiverem prontas, a família espalha as bolinhas de papel pelo chão da residência formando a trilha de João e Maria.

O passo seguinte é construir a casinha de doces. Em cima da base de papelão, junto com a criança, ponha 3 ou 4 biscoitos um em cima do outro, que serão as paredes da casinha; deixar um espaço aberto para as janelas e a porta. O telhado também pode ser feito com os biscoitos, ou então com um pedaço de cartolina ou papel cartão. Os doces e chocolates pequenos podem ser os canteiros do jardim etc.

Depois que a casinha de doces estiver pronta, ponha a toalha no final da trilha das “pedrinhas”. Em seguida, ponha a base de papelão com a casinha sobre a toalha.

A família deve percorrer a trilha fazendo de conta que estão juntos com João e Maria na floresta e no final da trilha… encontram a casa de doces! Como é a hora do lanche, todos comem a casinha.

Você sabia?

As crianças gostam muito de representar os papéis dos vilões das histórias. Neste caso, a criança pode ser a bruxa, ficar escondida e aparecer quando os adultos estão comendo a casinha. Depois, é claro que “esta bruxa” também comerá a casinha de doces!

 

 

 


Assista na íntegra a gravação do bate-papo O Brincar e a Educação Infantil com a professora Anna Flora Coelho:

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Equipe

Anna Flora Coelho

Anna Flora - Grupo Companhia das Letras. Nasceu em São Paulo. Formou-se em história na Pontifícia Universidade Católica e é mestre em Teatro pela Universidade de São Paulo. Já publicou 28 livros, entre eles A bela ou a fera (FTD), O retrato das figuras (Quinteto Editorial, 1992) e Os gêmeos corintianos (Ática, 1999).

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