Por que devemos falar sobre qualidade na educação?

A palavra qualidade indica excelência, precisão, algo que determina e estabelece um padrão. Acredita-se que aquilo que se oferta com qualidade pode melhorar a vida das pessoas e promover o bem viver.

Na educação, a qualidade se estabelece na comunidade escolar por meio das práticas educativas, dos processos organizados pela gestão escolar, das relações que acontecem no ambiente educativo e dos insumos e recursos investidos.

Os sentidos e os significados que se vinculam a esse termo ganharam contornos diferentes ao longo do tempo, uma vez que a definição do que é qualidade na educação tem ligação direta com o tipo de cidadão que se deseja formar, a sociedade que se quer construir e a própria concepção de educação. Falar em qualidade no campo educacional levanta bandeiras importantes. Uma delas é a da equidade: para que todos os estudantes brasileiros tenham acesso a uma educação de qualidade é primordial olhar para as desigualdades educacionais e sociais presentes no País.

Pesquisas atuais ainda evidenciam a precariedade do ensino e a exclusão de grande parte da população do sistema educacional, traduzidas por expressivas taxas de analfabetismo, evasão escolar e abandono. Para se ter uma ideia: de acordo com o Observatório do Plano Nacional de Educação (PNE), no Brasil, cerca de 2,5 milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos estão fora da escola e quase 13 milhões de brasileiros com mais de 15 anos se autodeclararam analfabetos na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) coordenada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2015.

Como podemos garantir a qualidade?

As leis e governos de um país devem estabelecer o compromisso com o projeto de educação almejado, indicando os parâmetros de qualidade. O exemplo mais recente no cenário brasileiro é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que norteia a reelaboração dos currículos na tentativa de assegurar os direitos de aprendizagem de crianças e jovens de qualquer localidade ou rede escolar do País.

As concepções que acompanham a visão de qualidade pautarão as políticas públicas, os projetos e as práticas educativas que embasam as oportunidades educativas, definindo o tipo de educação que deve ser oferecida, como ela deve se configurar e para quem será destinada.

Para que as oportunidades educativas sejam implantadas garantindo os princípios da qualidade, devem-se garantir recursos e insumos (materiais e humanos) capazes de amparar os atores que participam do processo educativo, no que diz respeito às condições de trabalho, à gestão do trabalho educativo, à formação dos profissionais e à organização curricular.

O processo de formação é essencial para que os profissionais que estão à frente dessa empreitada se apropriem das ferramentas capazes de efetivar a qualidade da educação. Dentre essas ferramentas, estão as práticas pedagógicas, metodologias e processos avaliativos que impactam positivamente nos processos de ensino-aprendizagem e respondem às transformações sociais e tecnológicas que nos impõem um novo modelo de escola e sociedade.

Pesquisas, estudos e avaliações produzidas em diferentes âmbitos, juntamente com as experiências de educadores e gestores que atuam na área, tem contribuído amplamente para os processos de formação desses profissionais.

Vejamos alguns exemplos…

Há evidências de que a participação das famílias no processo educativo influencia no desenvolvimento dos estudantes, podendo reduzir o absenteísmo e o abandono escolar. Os resultados da pesquisa Equidade e Qualidade na Educação, realizado pela OCDE, dentre outros apontamentos, ressaltou os vínculos entre as escolas, os pais e as comunidades como um dos eixos capazes de reduzir o fracasso e o abandono escolar.

Já o envolvimento ativo e protagonista dos estudantes no processo educativo potencializa seu desenvolvimento cognitivo e socioemocional, influenciando a revisão das práticas avaliativas e pedagógicas centradas na acumulação passiva do conteúdo.

Na era da sociedade da informação, com tantos dados disponíveis, é fundamental que o professor passe a atuar como mediador do conhecimento, indicando caminhos que auxiliam o aluno na seleção das informações acessadas, para que possa pensar e agir com autonomia, ter olhar crítico sobre o mundo e criar sentidos no seu processo de ensino-aprendizagem.

Como acompanhar a efetivação da qualidade?

Implementar boas práticas pedagógicas ou de gestão escolar é um passo importante no processo de qualidade. No entanto, acompanhar a sua execução e os seus resultados, é outra face igualmente necessária para gerar novas e atuais evidências que sustentem e validem as políticas públicas, as experiências implementadas e as teorias educacionais.

No âmbito nacional, os indicadores produzidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), por meio de avaliações em larga escala, carregam o desafio de medir a qualidade educacional do País e há uma preocupação cada vez mais frequente de contextualizá-los. Junto com os indicadores, essa instituição também é responsável pelo Índice de Nível Socioeconômico (Inse), que situa o público atendido pela escola a partir de uma média de estrato ou nível social, calculada a partir da escolaridade dos pais, posse de bens e contratação de serviços pelas famílias dos alunos.

Sabe-se que as condições em que vivem os estudantes, para além do conhecimento acumulado, são determinantes para os resultados que atingirão nessas avaliações. No caso brasileiro, vemos que crianças e jovens que se encontram em contextos vulneráveis já partem em situações de desvantagem nesse tipo de avaliação. Uma criança que não tem condições nutricionais adequadas, por exemplo, não manterá o foco adequado em uma prova, nem terá a oportunidade de desenvolver amplamente todas as suas capacidades cognitivas, o que a coloca em desvantagem e cria impedimentos para a concretização de uma educação de qualidade.

Uma coisa é clara: os dados quantitativos não podem ser considerados sem o olhar subjetivo e cotidiano de todos que fazem parte das comunidades escolares. As dimensões que atestam a qualidade educacional são múltiplas e complexas, e devem ser analisadas em uma perspectiva que leve em conta diferentes sentidos e pontos de vista.

A fim de alcançar a qualidade na educação, é urgente e necessário, então, seguirmos no caminho de pensar e implementar formas de avaliação e medição que indiquem, de fato, o impacto das práticas pedagógicas, da gestão escolar, dos recursos e políticas aplicadas na educação para a aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos.

Avalie este conteúdo

Média 4.7 / 5. Votos: 23

Nenhuma avaliação até o momento, seja o primeiro a avaliar.

Equipe

Priscila Oliveira

Formada em Ciências Sociais com Especialização em Políticas de Promoção da Igualdade Racial na Escola, trabalha com Educação desde 2013 atuando com currículo, formação de professores e avaliação, com experiência no terceiro setor e no setor privado.

Veja o currículo completo e todos seus materiais publicados Perfil

Relacionados

maio 08, 2025

0
(0)
Este curso está disponível apenas para escolas parceiras que adotam o Sistema Maxi de Ensino.   Público-alvo Diretores, coordenadores e professores do Ensino Médio das escolas parceiras do Sistema Maxi. Sobre o curso O curso [Sistema Maxi] Imersão 2025 – Ensino Médio foi desenvolvido...

maio 07, 2025

0
(0)
Este curso está disponível apenas para escolas parceiras que adotam o English Stars.   The Macmillan Online Placement Test (OPT) has been designed to help place applicants into groups corresponding to CEFR levels A1 to B2. For more accurate results the Macmillan OPT must be taken with no help from others...

maio 07, 2025

0
(0)
Este curso está disponível apenas para escolas parceiras que adotam o English Stars.   Target Audience This course is designed for English teachers from all segments (Kindergarten, Elementary School, Secondary School). Course description This is the English Stars teacher training. English Stars is a...
CARREGAR MAIS

Apoio

Inscreva-se para receber comunicações do PROFS