Projetos pedagógicos para aplicar a Comunicação Não Violenta com adolescentes

A adolescência é um período de grandes transformações na vida dos alunos. E no meio de um turbilhão de novidades é natural que muitos sintam dificuldades em entender e expressar os próprios sentimentos — o que, em sala de aula, pode se tornar a faísca para a explosão de uma série de conflitos.

Brigas, hostilidades entre grupos e respostas irônicas aos adultos, contudo, têm solução. Aplicando a Comunicação Não Violenta (CNV), uma técnica comunicativa baseada na empatia, fica mais fácil lidar com os atritos entre os estudantes. Confira 5 ideias e experiências práticas de uso do método com adolescentes e saiba como ele pode te ajudar a construir uma cultura de paz na escola.

Criar meios de expressão

A CNV é um método que reverte o modo agressivo como falamos e ouvimos e sequer percebemos. A técnica se baseia na ideia de que as pessoas se relacionam melhor quando sabem reconhecer e expressar seus sentimentos. Por isso, aplicá-la no contexto escolar tem muito a ver com promover uma educação socioemocional, isto é, desenvolver ações que ajudem os alunos a expressar o que sentem, criar empatia, tomar decisões e valorizar as diferenças.

Na Escola Municipal Juracy Cardoso Viana, no Espírito Santo, por exemplo, estudantes do 9º ano criaram o “Livro dos Desabafos”. O caderno foi passado de sala em sala para que eles expressassem suas emoções de forma anônima. Posteriormente, o conteúdo foi usado para embasar atividades e discussões que tinham como objetivo diminuir os casos de bullying no ambiente escolar.

Do mesmo modo, proporcionar práticas artísticas e culturais também é um bom jeito de criar meios de expressão em sala de aula. Nesses casos, é importante que os adolescentes tenham liberdade para criar e decidir os projetos.

Duas ações de protagonismo e responsabilidade

Incentivar que os alunos tomem decisões e assumam responsabilidades, aliás, é uma das maneiras mais eficazes de aplicar os fundamentos da Comunicação Não Violenta cotidianamente. Segundo especialistas (VINHA, 2019), o protagonismo infanto-juvenil é um dos fatores que mais ajuda na superação de problemas de convivência na escola. Por isso, vale sempre estimulá-los a ajudar os outros e a se importar com os colegas.

Uma estratégia eficaz nesse sentido é criar equipes de apoio — grupos de estudantes que atuam como “conselheiros”. Eles têm a missão de apoiar quem sofre rejeição, auxiliar na recepção dos recém chegados, contribuir na resolução de atritos, amparar os que estão tristes e tomar outras medidas para manter o bom convívio da turma.

Também é interessante estabelecer a figura do professor-tutor, um educador responsável por observar a classe e o que outros docentes falam sobre ela. Juntos, esses tutores e as equipes de apoio terão um olhar atento sobre os conflitos e os problemas interpessoais da turma e poderão sugerir ações e conversas pontuais para resolvê-los.

Nas duas práticas, é importante que os próprios adolescentes escolham os representantes da classe. Quando eles assumem responsabilidade diante de um acordo estabelecido em grupo, desrespeitar as normas torna-se uma deslealdade com todos. Por isso, procure sempre envolvê-los na construção das regras e tomadas de decisão.

Metodologias ativas

Dar preferência a estratégias pedagógicas que incluam discussão, experimentação e cooperação também tem tudo a ver com CNV. Ao aumentar o engajamento dos alunos, as metodologias ativas não os deixa se sentirem impacientes, o que é habitual em aulas mais tradicionais e, quase sempre, termina em conversas paralelas ou brigas. Além disso, atividades mais dinâmicas ajudam a reforçar os laços afetivos do grupo.

Algumas dessas práticas são:

Comunicação Não Violenta na relação direta

Mesmo investindo em uma educação socioemocional para evitá-los, é inevitável que conflitos eclodam em sala de aula. Nesses momentos, é importante que o professor mantenha a calma e tenha em mente que as tensões são, também, oportunidades de aprendizado. Por isso, é melhor encarar o problema de frente do que jogar a situação para “debaixo do tapete”.

Sempre que possível, discuta as questões de relacionamento da turma em rodas de conversa ou assembleias, tomando cuidado para distinguir as situações que devem ser tratadas coletivamente daquelas que podem ser resolvidas em particular. Manifestações de preconceito, casos decorrentes do uso das redes sociais que repercutem na escola e desavenças entre “panelinhas”, por exemplo, são temas que interessam a todo grupo. Já uma agressão entre dois estudantes pode ser tratada à parte.

Durante a conversa, o foco deve ser a escuta das partes e a resolução do problema. Não adianta procurar culpados, nem “lavar a roupa suja”. Mofarrej (2019) aponta que, em grupo ou em particular, ao dialogar com os adolescentes, é essencial que o professor:

  • Mostre-se curioso com relação ao que eles têm a dizer
  • Convide novas vozes para entrar na conversa
  • Valide a opinião de quem participa
  • Legitime as diferenças entre opiniões
  • Valorize o que eles têm a oferecer e compartilhar
  • Partilhe suas próprias reflexões, para favorecer a confiança

Se um aluno usar um tom provocativo, não adianta subir a voz. Ao invés disso, procure adotar uma conduta que o surpreenda. Respondê-lo de volta com alguma pergunta é uma boa forma de fazer isso.

E na hora de aplicar uma punição, fique atento para que ela esteja no mesmo contexto da ação que a motivou e que proponha uma resolução para a situação. Se um estudante, por exemplo, rabiscar a carteira, mostre como seu ato prejudica os outros e peça para que ele a limpe, revertendo o dano causado.

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Equipe

Isabela Farias Morais

Graduada em Jornalismo pela USP, trabalha com produção de conteúdo desde 2013, com passagens pelas revistas Espaço Aberto, Carta na Escola, Escola Pública, Guia do Estudante, entre outras. Também trabalhou como  conteudista do portal DIVERSA, produzindo material sobre práticas de educação inclusiva pelo país.

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