Você conhece as principais abordagens teóricas da educação?

Por mais que usemos na maioria das vezes o termo “educação” de forma ampla, é necessário compreender que o processo de ensino e aprendizagem não é um fenômeno único, pronto e acabado.

Existem diferentes abordagens teóricas sobre o assunto e cada proposta metodológica diferencia-se entre si de acordo com a visão que cada uma possui sobre o papel do sujeito, do objeto e da relação entre ambos. Sendo assim, cada abordagem irá privilegiar certos aspectos formativos em detrimento a outros.

Antes de conhecermos cada uma dessas abordagens e suas características principais, é interessante refletirmos sobre dois pontos: existe uma abordagem melhor do que a outra? E, afinal, qual a importância de identificar minha prática a uma determinada abordagem educacional?

A resposta da primeira pergunta é inteiramente subjetiva, mas, de forma resumida: é inviável classificar uma teoria como melhor do que a outra, visto que cada uma é reflexo de uma maneira de interpretar e compreender o processo educacional. É natural que nos afeiçoemos mais com certa metodologia, uma vez que essa proximidade teórico-metodológica acontece em decorrência das nossas crençasexperiências e visões de mundo. Dessa forma, o que é importante que façamos enquanto educadores ao optarmos por alguma abordagem é que realizemos uma análise contextualizada e crítica de cada método e dos resultados que buscamos obter com cada prática.

Já acerca da segunda pergunta, uma possível resposta está relacionada a construção de uma prática consciente, engajada e constante. Ao escolhermos uma diretriz, nos tornamos mais conscientes dos métodos e das consequências das ações que propomos durante a aula, tendo então uma observação mais atenta da prática como um todo. Dessa forma, ao se observar as reações dos estudantes e a evolução de cada um, torna-se mais fácil avaliar e adaptar os resultados das atividades e do método utilizado.

Todavia, quando iniciamos uma metodologia nova é normal que a prática não ocorra como o esperado da primeira, da segunda e nem da terceira vez! Porém, é necessário ter constância para se observar os resultados esperados e, é mais provável que consigamos ser perseverantes e contínuos quando temos domínio da prática proposta e nos familiarizamos com as diretrizes do método escolhido.

Agora, sem mais delongas, vamos ao resumo breve das abordagens e suas características para que você, professor(a), possa observar qual se encaixa melhor com seu estilo de pensamento!

 

Tradicionalista

Nesse modelo de educação a figura do professor é imprescindível. Na concepção dos teóricos tradicionalistas, o adulto é considerado um ser “pronto” e o aluno um adulto em miniatura, no entanto, essa miniatura precisa de ser atualizada sobre os saberes e conhecimentos produzidos no mundo até então. Assim, O estudante é visto como uma “tábula rasa”, e o conhecimento é repassado do professor para o estudante.

O foco dessa abordagem se concentrará nos elementos externos ao aluno, sendo eles o programa, as disciplinas e os conteúdos a serem ministrados. Um dos pontos marcantes dessa abordagem é que um de seus principais objetivos é garantir que o conhecimento humano produzido até a atualidade seja transmitido e, para tal, essa garantia independe da vontade e ou interesse do aluno.

A educação tradicional é utilitarista, no sentido que os conhecimentos aprendidos na escola servem para tornar o indivíduo útil para a sociedade. Em resumo, o objetivo dessa abordagem é transmitir o conteúdo científico para que o aluno utilize essas informações em sua vivência, mantendo a estrutura social vigente.

O método tradicional é característico do século XIX e, ao contrário das outras abordagens que veremos adiante, não foi teorizado e nem necessariamente concebido por algum teórico da educação. O método tradicionalista foi denominado assim como forma de definir e categorizar um conjunto de práticas e metodologias educacionais vigentes naquele período.

Comportamental

A abordagem comportamental é embasada na empiria, na experiência. Para essa metodologia, o conhecimento é uma “descoberta”, experiência que se apresenta como nova para seu descobridor (ou estudante) e é essencial para o processo de aprendizagem.

Nesse sentido, O papel do professor concentra-se em planejar e desenvolver um sistema de ensino-aprendizagem que maximize o desempenho do aluno e, dentro do leque de atuações do professor, realizar reforços positivos e negativos, que vão acelerar ou reprimir algum comportamento consolidam-se como característica marcante dessa abordagem.

Em síntese, esse modelo de educação visa ensinar conhecimentos, comportamentos éticos, práticas sociais e habilidades básicas do meio social. A intencionalidade dessa abordagem é fazer com que o aluno se adeque, por meio dos reforços comportamentais, as normas culturais e morais da sociedade.

Um dos principais teóricos B. F. Skinner, que foi um psicólogo behaviorista estadunidense. Suas pesquisas tinham como ponto fundamental o estudo das relações funcionais entre o estímulo e a resposta na modificação, entre a continuidade ou extinção de um comportamento.

Humanista

Essa abordagem foi desenvolvida por Abraham Maslow e Carl Rodgers e foi embasada na Teoria Humanista, que se concentra no estudo das particularidades e complexidades do ser humano. Uma característica forte dessa metodologia é a centralidade na autonomia do aluno, assim, na pedagogia humanista o aluno deve ser livre para realizar as atividades que vão de encontro com suas necessidades e interesses individuais.

O ensino é focado em ferramentas que permitam ao aluno um processo de autoaprendizagem, auxiliando-o a se desenvolver tanto emocional como intelectualmente. O docente deve estar integrado e aberto para aquele grupo de alunos para facilitar com que eles possam desenvolver seus processos, partindo de uma compreensão interpessoal de ambas as partes. Aqui vemos também uma grande valorização da criatividade e da subjetividade.

De modo geral, a abordagem humanista possui duras críticas ao método behaviorista (ou comportamentalista). Todavia, é possível observar diferentes pontos de convergência entre a abordagem humanista e a metodologia construtivista.

Cognitivista

Um dos principais teóricos dessa abordagem foi Jean Piaget, grande nome da pedagogia. A concepção piagetiana de educação baseasse no método investigativo e considera os quatro estágios do pensamento infantil (teoria também desenvolvida por Piaget).

Educação vista como processo de desequilíbrios e reequilíbrios, a fim de que o aluno aprenda, por si mesmo, a conquistar esse conhecimento e atingir autonomia intelectual. O aluno é um elo ativo na aprendizagem, exercendo habilidades de observação, experimentação, comparação e levantamento de hipóteses. Cabe ao professor desenvolver situações conflito para que sejam trabalhadas de forma cooperativa entre docentes e discentes.

O método cognitivista procura formar de sujeitos com capacidade de alcançar o máximo desenvolvimento em suas habilidades motoras, cognitivas e sociais. Em síntese, para os adeptos do método cognitivista, o verdadeiro aprendizado só se concretiza quando o estudante é capaz de elaborar o conhecimento próprio.

Histórico-crítica

O termo pedagogia histórico-crítica foi cunhado por Dermeval Saviani em 1978 e, a principal orientação dessa metodologia é a construção de uma perspectiva pedagógica que seja crítica, mas não reprodutivista, ou seja, que não se apresente como uma repetição.

Essa abordagem também assume um compromisso explícito com a luta socialista, tendo como pilares de sua formulação a concepção de luta de classes advinda da teoria Marxista. Para Saviani, o domínio do conhecimento por parte das classes dominantes é um dos fatores que se opõe a autonomia da classe trabalhadora e que neutraliza sua luta, daí a necessidade do rompimento como status quo.

Dessa forma, a educação na abordagem histórico-crítica é um instrumento de emancipação das classes sociais. O Professor tem um papel central de levar conhecimento ao aluno. Ele dosa a quantidade de conhecimento apresentado de acordo com a capacidade técnica do estudante. Essa abordagem promove a formação de indivíduos capazes de criticar e alterar sua própria realidade.

Libertadora

A abordagem libertadora, ou pedagogia da libertação (como também é conhecida), tem como teórico de referência o célebre educador Paulo Freire. A terminologia dessa abordagem também faz alusão à filosofia da libertação de Enrique Dussel que, de forma resumida, visa compreender quais processos possibilitam o sujeito oprimido a alcançar sua liberdade.

A pedagogia da libertação conta com o método de alfabetização desenvolvido por Paulo Freire, assim, os estudantes são alfabetizados através das palavras de seu cotidiano. Esse método tem como principal objetivo fazer com que os alunos possam associar a alfabetização ao seu dia-a-dia.

Para a abordagem libertadora a educação é um ato político no qual os sujeitos podem, por meio dela, se tornar construtores ativos da história e intervir na sociedade. O professor não possui um papel central no processo de aprendizagem, mas sim o aluno. O professor deve alinhar os conhecimentos que os alunos já possuem com a educação formal. Tal método visa formar sujeitos capazes de construir sua própria trajetória, seja ela profissional ou pessoal.

Libertária

A pedagogia libertária é uma abordagem progressista que acredita na educação como ferramenta de transformação social. Nessa abordagem os conteúdos escolares são disponibilizados aos estudantes, mas não obrigatórios, visto que o principal objetivo é a construção dos conhecimentos frutos das experiências coletivas.

Outra característica importante dessa abordagem diz respeito à liberdade e a autonomia concedida aos grupos de alunos, que podem escolher ou não trabalhar os conteúdos, bem como escolher as temáticas a partir da deliberação coletiva.

Aqui, a educação é vista como processo cujo objetivo principal é a transformação da sociedade a partir do desenvolvimento da personalidade auto gestora dos alunos. Não há, de certo modo, uma hierarquização da aprendizagem. O professor representa um mediador de ações pedagógicas, estimulando reflexões e dinâmicas educacionais. Essa abordagem visa a transformação da sociedade a partir de uma educação.

 

Gostou desse resuminho? Se sim, indicamos o livro “Ensino: as abordagens do processo”, da autora Maria da Graça Nicoletti Mizukami, que foi utilizado para a escrita desse artigo. Com essa leitura você poderá aprofundar na contextualização de cada uma das abordagens mencionadas acima e aprimorar sua prática.

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Equipe

Marianne Braga

Formada em História pela UFMG, pós-graduanda em Psicopedagia na PUC-Minas. Atua na produção de conteúdo didático, conteúdo destinado a formação de professores e como professora de História.

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