A competência 4 da Base Nacional Comum Curricular fala sobre Comunicação nos seguintes termos:
Utilizar diferentes linguagens — verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
A ideia por trás desta competência é dar aos alunos ferramentas que os auxiliem em análises críticas e reflexões sobre diferentes linguagens e plataformas. Mas a reflexão não é um processo meramente individual: embora exija certo nível de maturação da própria individualidade, o sujeito reflexivo está, acima de tudo, se apropriando do espaço que ocupa, em busca de avaliá-lo, compreendê-lo e extrair significados de suas experiências.
Em outra esfera, a Lei 13.696/18, que institui a Política Nacional de Leitura e Escrita, fala em seu Art. 3º sobre:
Fomentar a formação de mediadores de leitura e fortalecer ações de estímulo à leitura, por meio da formação continuada em práticas de leitura para professores, bibliotecários e agentes de leitura, entre outros agentes educativos, culturais e sociais.
Quando falamos dos papéis dos agentes e mediadores de leitura, aliás, acabamos sendo remetidos aos chamados Clubes de Leitura, uma proposta relativamente simples, embora ainda pouco praticada no país: a reunião de um grupo de pessoas que se encontram periodicamente para discutir um livro, contando com a ajuda de um mediador. Dentro do contexto escolar, esses espaços podem ser uma ferramenta de suporte muitíssimo importante, ao oferecer a oportunidade de interação e assenhoramento — interação com o grupo, a coletividade que compõe o clube, e assenhoramento do texto escrito, instrumento a partir do qual o sujeito reflexivo renovará sua percepção do mundo.
Para Janine Durand, coordenadora dos Clubes de Leitura da Companhia das Letras, os principais objetivos desse tipo de programa são:
· Promover a democratização do acesso à leitura;
· Contribuir para a formação de um público leitor, crítico e criativo;
· Incentivar o debate, interação e a socialização do conhecimento;
· Formar mediadores de leitura e autonomizar os clubes após um período de incubação (de duração variável, a depender da dinâmica do grupo);
· Ampliar o tempo de leitura e o repertório dos participantes, além de incentivar o desenvolvimento do prazer pela experiência de leitura.
No estudo “Clubes de Leitura: a construção de sentidos em situações colaborativa”, a especialista em Docência de Língua Portuguesa Andréa Schmitz-Boccia elenca as vozes de vários estudiosos, traduzindo-as em três diretrizes que permeiam a experiência dos clubes de leitura: a valorização das impressões do leitor, o diálogo horizontal — ou seja, o diálogo democrático, sem hierarquizações -, e o diálogo entre pares, estímulo para o surgimento de um “pacto de leitura” onde os participantes do clube têm como objetivo comum a leitura, análise e discussão das obras.
Lembramos que os Clubes de Leitura se prestam a dois papéis: a manutenção do interesse do aluno-leitor, aquele que já despertou para a experiência literária, quanto para o aluno não — devendo este último ser um dos pontos focais do mediador, a fim de transformar sua experiência com a literatura. Vanessa Ferrari e Janine Durand, que mediaram clubes de leitura na Penitenciária Feminina de Santana, afirmam que frequentemente as participantes vão de não-leitoras a leitoras qualificadas ao longo de um ano de participação nos clubes — o que vai ao encontro do que alega a autora Luzia de Maria, em O Clube do Livro: ser leitor — que diferença faz?:
(…) a educação do gosto se faz por encontros, aos poucos, paulatinamente. E, se no início o jovem se apaixona pela história e pelos personagens, se chega a última página tendo a curiosidade como dínamo e os lances do enredo a acioná-lo, quando acontecer o contato com as grandes obras da literatura, este jovem já terá um referencial para comparação.