A Reforma do Ensino Médio, aprovada em 2017, trouxe diversas discussões para o panorama da educação nacional. Entre os vários argumentos contra ou a favor de pontos como aumento da carga horária ou escolha de um itinerário formativo por adolescentes, um dos tópicos do documento ficou nas sombras e só agora há pouco veio à luz: a possibilidade de dedicar parte da carga horária dos alunos ao ensino à distância.
A educação à distância não é uma novidade no Brasil ou no mundo. Desde os cursos por correspondência até o já extinto Telecurso 2000, sente-se a necessidade de complementar (ou mesmo ser a única opção) de formação que não seja presencial. Nos anos 2000, com o boom dos cursos online para vestibulares, essa realidade tomou conta de boa parte dos estudantes que estavam prestando algum concurso ou o ENEM. Hoje, há cursos universitários de graduação e pós-graduação inteiramente online, exigindo a presença do aluno apenas para realizar provas. Esse assunto, inclusive, insurgiu em polêmica com a proposta de ensino básico domiciliar, proposto pelo governo este ano.
De fato, existem muitas vantagens no ensino à distância. Uma delas – e talvez a maior – seja a otimização do tempo. Em uma realidade cada vez mais corridas, a dicotomia entre estar no mercado de trabalho e se sobressair nele com competências e saberes a mais encontra no EAD uma fórmula de sucesso: o profissional pode trabalhar e, no seu tempo, ganhar mais instrução e melhorar seu currículo. Além disso, a intimidade do homem contemporâneo com os meios digitais facilita esse processo. Pensando nisso, a Reforma autoriza que até 200h (de um total de 3000) dos 3 anos de Ensino Médio sejam de disciplinas online, à distância. Estamos falando aqui de jovens de 15 a 17 anos que, já partícipes do universo digital, complementariam sua formação no segmento. Isso otimiza e facilita a vida.
Há, no entanto, um importante empecilho no que tange a realidade brasileira. Sabemos de todas as desigualdades sociais e econômicas que existem em nosso país. Sabemos, também, que há enormes discrepâncias entre o ensino público e o privado, tendo este segundo muito mais investimentos e possibilidades que o primeiro. Nesse sentido, não é trivial achar que as facilidades o EAD chegariam a todos os nossos estudantes de Ensino Médio. Pelo contrário, se talvez apenas uma parcela tivesse acesso a isso, é possível que as diferenças se agravem ainda mais. É preciso um projeto sério de governo para viabilizar e garantir o acesso a recursos online a todos os estudantes de escolas públicas do Brasil, mesmo com toda sua vastidão territorial. Permitir que parte do ensino médio seja à distância é uma proposta de aproximação com o mundo pós-moderno, mas precisa ser feita com projeto, processos de implementação e fiscalização sérios para garantir o seu sucesso.