Habilidades e Competências: como avaliar?

Desde a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – 1996) o tema da avaliação está na pauta da produção acadêmica, de escolas e professores e, nesse momento, passado um longo período de distanciamento social, onde foi necessária a implementação do Ensino Remoto Emergencial, as medidas pedagógicas de avaliação devem, mais do que nunca, ser discutidas e repensadas.

 

Consta em seu Artigo 24, parágrafo V que verificação do rendimento escolar deverá atender ao critério deavaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais”.

Temos também, na BNCC, clara referência a Avaliação: cabe, às redes e às escolas, na (re)formulação de seus Currículos “construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de processo ou de resultado que levem em conta os contextos e as condições de aprendizagem, tomando tais registros como referência para melhorar o desempenho da escola, dos professores e dos alunos”.

Ou seja, no ato de avaliar, o contexto e as condições nas quais se dão o processo de ensino e aprendizagem, devem ser considerados. Portanto, num período atípico como o que estamos vivendo, aplicar os mesmos métodos de avaliação praticados no contexto das aulas presenciais, mostra-se ineficaz. É importante refletir não somente sobre o “como”, mas também sobre “o que” avaliar.

 

O que tem sido feito?

 

Encontrar novos instrumentos de avaliação e novas formas de registro da aprendizagem tem sido uma preocupação das escolas e dos professores (sobre novas formas de avaliação, veja neste blog o artigo Avaliação como sinônimo de aprendizagem, de Priscila Oliveira , de outubro de 2018, em: https://www.profseducacao.com.br/2018/10/30/avaliacao-como-sinonimo-de-aprendizagem/).

Mas, não basta mudarmos os instrumentos se a concepção de avaliação não mudouSe o que temos é “mais do mesmo” – atividades e projetos são transformados em números ou conceitos, para julgar, classificar e, até, excluir os alunos – as desigualdades, o distanciamento e o desânimo dos estudantes no processo educativo, em tempos de pandemia, só irá aumentar. Nesse sentindo, é importante entender, que “a diferença, por vezes, não está nas metodologias ou nos instrumentos, mas na finalidade com que os utilizamos. (…) O essencial é ter clareza dos princípios que fundamentam as ações” (Jussara Hoffmann).

Muitos países estão adotando medidas avaliativas, que suspendem a reprovação dos estudantes e que tem foco no diagnóstico e em propostas de intervenção que promovam um nivelamento. Nos Estados Unidos, por exemplo, a cidade de Nova York adotou um sistema de notas a partir de três classificações – “atende aos parâmetros”, “precisa melhorar” e “curso em andamento”, nesse formato, os estudantes não serão reprovados, mas aqueles que se enquadrarem nos dois últimos conceitos passaram por reforço escolar. Já na Itália, os alunos que demonstram lacunas graves na aprendizagem estão sendo encaminhados para programas de recuperação, no entanto, nas avaliações a trajetória escolar do estudante está sendo considerada.

 

O que podemos fazer?

 

Tanto a LDB quanto a BNCC apontam para princípios de avaliação cuja função não é aferir a “quantidade de conteúdo assimilado”, mas sim investigar o percurso dos alunos no desenvolvimento de habilidades e competências. E é esse o foco da aprendizagem que deve nortear aulas e processo de avaliação, principalmente agora. Este deve ser formativo: observar o progresso dos estudantes, analisar suas dificuldades e implementar novas práticas para que se desenvolvam e aprendam.

Ao planejarmos, é interessante começar estabelecendo quais as habilidades – relacionadas ao objeto de conhecimento “X” – a turma precisa desenvolver e quais as competências a serem construídas. Após essa definição, desenhar as estratégias para a aprendizagem, de modo que os alunos sejam ativos nesse processo. Por fim, delinear os instrumentos e métodos para investigar o progresso e as dificuldades dos estudantes, o que nos dará o diagnóstico de como estão os alunos até aquele momento, para fazer os ajustes ou as mudanças necessárias e para desenhar o planejamento pedagógico do próximo ano.

Avaliar com foco no processo é, sem dúvidas, a melhor maneira de identificar e medir o progresso dos alunos num momento em que as aulas são mediadas por tecnologias. Buscar meios de avalição que demandem a participação ativa dos alunos num processo de construção, por exemplo, com métodos que passem pela conclusão de etapas e que possibilitem práticas de feedback, que permita a clara compreensão dos sistema de avaliação, não como um momento de temor e punição, mas como parte importante da aprendizagem.

 

Habilidades na prática

 

Um bom apoio para essa tarefa é oferecido pela Matriz Curricular disponibilizada pela SOMOS Educação no portal – aberto e gratuito – BNCC na prática: https://www.bnccnapratica.com.br/explore-a-matriz . A partir das habilidades estabelecidas pela BNCC, encontramos sugestões de habilidades na prática, que podem subsidiar nosso planejamento e indicar o que avaliar.

Por exemplo, para o 9º ano do Ensino Fundamental, em História, a partir da Matriz proposta, fizemos o recorte a seguir:

Unidade Temática Objeto do Conhecimento

 

Habilidade segundo a BNCC

Na prática,

 alune*…

Totalitarismos e conflitos mundiais A emergência do Fascismo e do Nazismo/ A 2ª Guerra Mundial/Judeus e outras vítimas do holocausto. (EF09HI13) Descrever e contextualizar os processos da emergência do fascismo e do nazismo, a consolidação dos estados totalitários e as práticas de extermínio (como o Holocausto). – descreve o contexto social, político e econômico dos países que adotaram o regime fascista no início do séc. XX, identificando-os como Estados Totalitários.

– observa/reconhece o viés eugenista e antidemocrático da ideologia nazifascista e suas práticas de extermínio.

– avalia, no presente, a reprodução de discursos e práticas fascistas e antidemocráticas.

– valoriza as diversidades culturais, étnicorraciais e de gênero como direitos irrevogáveis dos indivíduos e dos grupos sociais.

A partir das Habilidades na prática podemos identificar as Competências Gerais e de Área:

– Argumentar, com base em fatos, dados e informações confiáveis (com base nas Ciências Humanas) para formular, e defender ideias e pontos de vista que respeitem e promovam os direitos humanos.

– Compreender a si e ao outro como identidades diferentes, de forma a exercitar o respeito à diferença em uma sociedade plural e promover os direitos humanos.

 

Sugestão de registro de observação

 

FICHA DE OBSERVAÇÃO
Aluno/a:
Série/ano:  9º. ano                          Turno:                                                              Ano:
Profe:
LEGENDA:    PA → Está progredindo adequadamente.

NM → Necessita melhorar.

Habilidade 1… PA
Competência 1…
OBSERVAÇÕES:

 

 

ESTRATÉGIAS PARA SUPERAR AS DIFICULDADES:

 

 

 

 

E as provas?

Deixando de lado as provas, na avaliação formativa devemos, sim, diversificar os instrumentos de avaliação (atividades com questões desafiadoras ou reflexivas, resolução de problemas, produção de textos, vídeos, desenhos, pesquisas, projetos etc.) e as formas de registro (fichas de observação, fichas de autoavaliação, rubricas, portfólios, relatórios etc.). O ambiente virtual, inclusive, trouxe diversas possibilidades para diversificar e inovar nas atividades escolares.

Mas, mesmo que a escola continue insistindo nas provas (que não devem ter papel de destaque), algumas habilidades podem ser investigadas através de provas escritas reflexivas ou operativas; e, segundo alguns autores, até através de testes. Em que pesem as críticas, é preciso lembrar que questões de múltipla escolha são apresentadas nas avaliações externas ou de larga escala – como a Prova Brasil, ANEB, ENEM e PISA – relacionadas a habilidades específicas. E, num momento em que os estudantes farão as provas de lugares diversos, sem a vigilância que a sala de aula permitia, esse é um formato que não traz dados muito confiáveis para o diagnóstico.

Por fim…

avaliação formativa, segundo a BNCC, é também um diagnóstico das práticas pedagógicas dos professores e das escolas, para que reflitam sobre seus procedimentos, identifiquem o que precisa de mais atenção ou de mudança. É importante não perder de vista que as avaliações devem ser parte de uma proposta educativa que busquem como resultado o processo da aprendizagem e desenvolvimento dos alunos – uma formação humana integral que vise à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

 

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Equipe

Celia Amaral de Almeida

Trabalha há mais de 30 anos na área da educação. Célia atuou como professora (História e Sociologia), coordenadora pedagógica, formadora de professores, palestrante e assessora pedagógica em publicações didáticas, nas áreas de Ciências Humanas (especialmente História e Sociologia), de Sexualidade e Gênero. Em diversas instituições públicas e privadas, na educação regular (Ensino Fundamental anos finais e Ensino Médio) e EJA. 

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