Outras linguagens: falando sobre livros em tempos de redes sociais

Você conhece o Wattpad? Talvez não, mas há grandes chances de alguns dos seus alunos conhecerem. A plataforma é aquilo que podemos chamar de “rede social literária”, ao lado de outros sites como o Scribe e o Tapas. Essas redes incentivam a formação de jovens autores, abrindo espaço para publicação independente e compartilhamento em tempo real na internet. E não se tratam de espaços com público limitado: o Wattpad, por exemplo, já contabiliza cerca de 170 milhões de histórias — das quais 5 milhões foram escritas em língua portuguesa.

E por que falar sobre essas plataformas com educadores? A quarta edição da pesquisa Retratos da Leitura de 2015, do Instituto Pró-Livro, indicou que 60% dos leitores brasileiros estão conectados à internet e aos aplicativos de redes sociais. É um número relevante, que se conecta com a competência Cultura Digital da Base Nacional Comum Curricular, qual seja:

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

Em se tratando da formação de novos leitores, há formas lúdicas de transformar aquela olhadinha no celular em material para aula. As redes sociais — em especial aquelas que estimulam a produção criativa e o conhecimento de mundo, como é o caso das plataformas citadas — não precisam ser encaradas como vilãs ou ladras do protagonismo do aluno. Longe disso, devem ser trazidas para o contexto escolar para crítica, análise e uso consciente de seus recursos.

Cultura Digital é sobre agregar em lugar de proibir

A geração dos nativos digitais não é tão difícil de compreender como costuma ser divulgado. Ao contrário: estudos como o Relatório de crianças da União Europeia on-line indicam:

… apenas uma criança em cada cinco usava um site de compartilhamento de arquivos, e uma em cada dez possuía um blog. A maioria “usa a internet para consumir conteúdo produzido em massa”. (Nexo Jornal)

Por outro lado, é inegável que a sala de aula não é a mesma de dez anos atrás, bem como os processos pedagógicos capazes de facilitar a o ensino e a aprendizagem. No caso das redes sociais literárias, aqui estão alguns exemplos de como utilizá-las tanto para despertar o interesse do aluno nas práticas de leitura e escrita quanto para criar em sala de aula um ambiente que possa, dentro dos limites, refletir a cibercultura.

· Convidar os alunos a encontrar autores contemporâneos que foram descobertos, por editoras, nas redes sociais literárias, como o Wattpad;

· Criar ações em equipe que incluam a busca por material com enredos semelhantes aos clássicos estudados em aula. O Scribe e o Wattpad utilizam filtros de pesquisa ampla que englobam temas como Ficção Geral, Ficção Científica, Poesia, entre outros;

· Estimular os alunos a produzir suas próprias histórias, que podem seguir um enredo livre ou diretrizes dadas pelo professor (estilo de determinado autor, época literária, gênero específico, etc.) O Tapas, inclusive, aceita o formato gráfico das histórias em quadrinhos — o que pode funcionar como um gancho interessante entre Literatura e Artes.

Perceba que a cultura digital é uma cultura de conexões, que podem e devem ser aplicadas pelo docente, aproximando-o das linguagens múltiplas dos estudantes, de seus interesses e das comunidades que formam espontaneamente no ambiente virtual, ressignificando a sala de aula como um espaço seguro e que forneça meios para entender o poder da tecnologia na sociedade, incluindo nas relações sociais, culturais e comerciais.

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Equipe

Sol Coelho

Pós-graduado em Book Publishing, agente literário e professor de escrita criativa.

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